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CP: Crónica de uma degradação

CP: Crónica de uma degradação

O estado de degradação dos serviços prestados pela CP não é novidade, tendo sido exemplificado, recentemente, numa reportagem televisiva na qual foi denunciada a forma como os passageiros da CP são transportados na linha entre Tomar e Lisboa. Existe uma gritante falta de recursos humanos e materiais na CP, o que se traduz numa redução da qualidade dos serviços ao dispor da população. Inclusive, o próprio presidente da CP admitiu a falta de comboios até o final do ano, justificado pela falta de pessoal e de peças na EMEF - a empresa que mantém e repara comboios em Portugal.

Diversas têm sido as queixas expressas pelos passageiros, remetendo para uma evidente degradação dos serviços prestados pela CP, colocando em causa, não só o conforto, como também a sua segurança. Aproveitando o período de férias, marcado por um decréscimo do número de passageiros, a CP reduziu composições, tendo mantido essas mudanças após esse período, mesmo em comboios que circulam em hora de ponta.

Estas reclamações transparecem um desrespeito pelos passageiros, tendo como exemplos: a inexistência de espaço para, sequer, viajar de pé em segurança; a impossibilidade da entrada de passageiros, pela inexistência de espaço, em estações com maior afluência; as avarias já no decorrer das viagens, obrigando os passageiros a permanecer nestas condições por horas, aguardando por uma equipa de reparação; os constantes atrasos; a supressão de comboios, por motivo de avaria, sem qualquer justificação, levando à sobrecarga dos comboios seguintes; a ausência de respostas, por parte de elementos da CP, às reivindicações dos passageiros.

As constantes avarias dos comboios e suas composições refletem um notório desinvestimento na frota da CP, assim como, as debilidades na manutenção da mesma. Os sinais do prolongado subfinanciamento da CP são notórios, tendo como resultado cancelamentos, recorrentes atrasos e uma incapacidade de manutenção dos seus recursos materiais.

Em suma, diariamente os passageiros são confrontados com situações que colocam em causa os seus direitos enquanto consumidores, agravado pelo facto da CP facultar um serviço de transporte público, tratando-se de um Direito fundamental. Mais ainda, são muitas e muitos os passageiros que dependem funcionalmente dos serviços da CP, não só para chegar atempadamente ao trabalho, como também a instituições de ensino, e até mesmo a outros compromissos de carácter esporádico (por exemplo, consultas médicas).

As constantes greves convocadas por trabalhadores associados à CP são o reflexo do desinvestimento a que os caminhos-de-ferro têm vindo a ser alvo, incluindo nos seus próprios recursos humanos. Este subfinanciamento crónico de entidades públicas não é caso exclusivo da CP – tendo já culminado em desastrosas privatizações. Esta ausência de planificação estratégica, abre espaço para uma progressiva privatização do setor ferroviário, traduzindo-se numa degradação dos seus serviços e condições de trabalho.

Foi recentemente divulgado que o Estado aumentará, até o presente mês de novembro, o capital da CP em 23 milhões de euros, capital esse que deve refletir-se na melhoria dos seus serviços. Uma vez que os transportes públicos constituem um pilar fundamental na Democracia, permitindo uma rápida, cómoda e ecológica forma de deslocação, não deve existir espaço para uma acomodação a meros “serviços mínimos”.